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Estamos acostumados a que o inventário da Booking.com seja redistribuído em inúmeros outros sites. O surpreendente é o contrário, que passou despercebido até agora neste setor: quartos no site Booking.com fornecidos por terceiros. Chama-se Booking.basic e, de momento, está disponível intermitentemente em estabelecimentos asiáticos, disponibilizando inventário de Agoda e CTrip. Com esta novidade, a Booking.com atravessa uma porta com enormes consequências potenciais.
Em todos os casos que encontrámos trata-se de uma tarifa não reembolsável, com pré-pagamento gerida pelo intermediário e a um preço inferior do que o oferecido diretamente por Booking.com.
Desde março, a própria Booking.com disponibiliza uma referência na sua política de privacidade, algo que supõe uma oficialização e reconhecimento da novidade:
Booking.Basic: podemos permitir a realização de reservas Booking.Basic, que são facilitadas por um Provedor de viagens distinto do alojamento reservado. Como parte do processo de reserva, seremos solicitados a enviar ao Provedor em questão alguns dos seus dados pessoais relevantes para fins de reserva. Ao utilizar Booking.Basic, é aconselhável que reveja a informação que aparece no processo de reserva ou que consulte a sua confirmação da reserva para obter mais informação sobre o Provedor de viagens, e como este realizará posteriormente o tratamento dos seus dados pessoais.
Realizámos reservas para comprovar o seu funcionamento. Se reservar no site Booking.com, não são permitidas alterações nem pedidos nos comentários, possui um serviço de apoio limitado e a confirmação não é imediata. Um e-mail posterior, também da Booking.com confirma definitivamente. Neste e-mail o distribuidor é informado, no nosso caso é a CTrip:
O e-mail de confirmação também indica que, para o hotel, a reserva deve ter sido identificada como tendo sido feita pela CTrip, e não como Booking.com:
A CTrip, no seu site, disponibiliza efetivamente o estabelecimento da nossa reserva pelo mesmo valor de 57€ que reservámos em Booking.basic:
Sem chegar a efetuar uma reserva, qualquer pessoa pode averiguar qual o distribuidor que está por detrás de uma tarifa Booking.basic: basta abrir o código fonte da página da reserva e pesquisar por “wholesaler_id”. No nosso caso, Ctrip, pode encontrar-se como wholesaler_id: “ct”
Noutro hotel, a confirmação identifica Agoda como parceira:
Em outro hotel, a confirmação informa a Agoda como parceira:
A opinião da Mirai: O que aconteceria se Booking.com oferecesse de forma massiva tarifas de terceiros
Não é nenhuma novidade que os inventários sejam redistribuídos e revendidos a diferentes níveis por elos sucessivos. Várias OTA são complementadas por inventário de terceiros. Não é surpreendente nem chocante que a Booking.com também recorra a outros para melhorar a sua competitividade quando não possui o melhor preço. No entanto, a notícia levanta muitas questões, que deixamos no ar…
- A grande dúvida: trata-se de um teste limitado ou Booking.com tem intenção de a estender a estabelecimentos noutros países?
- Que distribuidores participarão? Agoda é uma marca Booking Holdings e CTrip está relacionada. Será que algum dia veremos Expedia a oferecer quartos em Booking.com?
- com é a OTA número um na Europa. Tem o cliente. No entanto, nem sempre oferece o melhor preço, como qualquer pessoa pode comprovar facilmente num mecanismo de meta-pesquisa. Que impacto teria que a principal OTA, com o cliente, garantisse definitivamente o melhor preço com Booking.basic?
- Se os mecanismos de meta-pesquisa fazem a gestão de reservas e as OTA, como Boooking.com, incorporam os melhores preços de terceiros, a fronteira entre ambos está a reduzir-se?
- Disparidades de preços? Até agora a Booking.com tem demonstrado um comportamento exemplar relativamente ao preço do hotel. Uma vez que o seu modelo é baseado no pagamento direto do cliente no hotel, é prevenida qualquer violação de preço. Booking.basic não deveria chocar nem surpreender visto que detém tarifas legítimas, que cumprem com as condições ou restrições concordadas com o hotel. Entendemos que a Booking.com realiza essa comprovação com o mesmo profissionalismo com que respeitou o preço do hotel. Será que a Booking.com tem consciência das restrições que, geralmente, acompanham as tarifas descontadas monitoriza o seu cumprimento em Booking.basic? Caso contrário, tornar-se-ia corresponsável pelas disparidades que enfurecem os hotéis.
- Os estabelecimentos com Booking.basic são informados da sua participação? CTrip, Agoda, etc., informam as reservas geradas em Booking.basic? A extranet da Booking.com ou a sua comunicação com o hotel incluem resultados de Booking.basic? Um hotel pode recusar-se a participar?
Em qualquer caso o responsável de um hotel que, a qualquer dia, veja o seu estabelecimento em Booking.basic deveria preocupar-se. Existem duas possibilidades que o podem explicar, ambas negativas:
…Ou estão a ser redistribuídas tarifas descontadas com condições que não cumprem (alteradas sem permissões, que incluem markup mínimos em caso de valores líquidos, mostradas a mercados para os quais não se destinam, etc.)
…Ou o hotel/cadeia assinou contratos de distribuição sem sentido nem controlo, através dos quais a dois clientes, em igualdade de condições, são oferecidos preços distintos.
Quer seja por um ou por outro motivo, algo está a falhar. Se se tratar de um teste em hotéis na Indonésia, tudo permanecerá uma anedota curiosa, mas se algum dia Booking.basic chega ao seu hotel pela mão da maior OTA, estará perante um problema muito sério.