Pablo Delgado5 minutos de lectura

A IA vai mostrar o seu inventário e preços em tempo real. Está pronto?

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Nenhum modelo de distribuição hoteleira baseado em IA (Inteligência Artificial) oferece ainda preços em tempo real para hotéis. Os valores exibidos são apenas estimativas. Esta é uma grande fraqueza no que diz respeito a impulsionar reservas, o que explica por que a IA ainda não revelou uma grande mudança no setor.

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Mas isso vai mudar em 2025, e é certamente apenas uma questão de semanas ou meses.

É aqui que entra em cena o acesso ao “ARI” – que significa “disponibilidade, tarifas e inventário”–  em tempo real, que representa a próxima fronteira na distribuição hoteleira impulsionada por IA. Consegue imaginar quando a IA for capaz de fornecer preços finais e exatos? Algo como a simulação a seguir:

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As empresas de tecnologia de viagens (principalmente OTAs, PMS, gestores de canais e motores de reservas principais) oferecem as suas próprias APIs para extrair ARI em tempo real. Os atuais operadores de metapesquisa, como Google Hotels e Tripadvisor, já utilizam estas APIs e redirecionam os clientes para diferentes sites (websites de hotéis e OTAs). No entanto, a manutenção e a escalabilidade têm sido um grande desafio. As plataformas de IA seguirão este modelo e implementarão estas APIs ou tentarão uma abordagem nova?

Model-control Protocol ou MCP, o catalisador entre a IA e o ARI em tempo real?

O MCP oferece uma estrutura padronizada e escalável que permite aos grandes modelos de linguagem ou LLMs, aceder a diversas fontes de dados e ferramentas de forma eficaz.

Este avanço possibilita que plataformas baseadas em IA, como ChatGPT, Gemini e Perplexity, integrem dados em tempo real de fornecedores de tecnologia hoteleira, incluindo sistemas de gestão hoteleira (PMS), gestores de canais, sistemas de gestão de receitas (RMS) e motores de reservas.

Como resultado, estas plataformas podem expandir o seu papel para além da descoberta de destinos e hotéis, oferecendo disponibilidade em tempo real, preços e até mesmo capacidades de reserva de ponta a ponta, sem que os utilizadores precisem de sair da interface de IA.

Em teoria, a funcionalidade de realizar transações (reservas) também poderia ser incorporada, permitindo reservas diretas através de agentes de IA. Este é, sem dúvida, um cenário possível. No entanto, não se sabe se corresponderá às preferências dos consumidores e dos fornecedores de alojamento. Iniciativas semelhantes, como “Book on Google” do Google e “Instant Booking” do Tripadvisor, enfrentaram dificuldades de adoção e foram, no final, descontinuadas. Para além da aceitação pelo mercado, ainda existem vários desafios críticos, como segurança de dados, integração de pagamentos, privacidade dos utilizadores e fidelização às marcas.

Por fim, embora o MCP apresente uma visão atraente e promissora, continua a ser um conceito em fase inicial. A sua adoção ainda é limitada e depende fortemente da escala organizacional, da preparação técnica e do alinhamento estratégico.

O que podem fazer os hotéis atualmente?

É do interesse dos hotéis apresentar os seus preços diretos em tempo real em novos espaços, sobretudo se estiverem a crescer significativamente na sua quota de mercado. No entanto, os intermediários (principalmente as OTAs) também possuem ARI em tempo real e são tecnologicamente mais avançados. Quem assumirá a liderança? Se os hotéis permanecerem passivos, as OTAs ocuparão estes novos espaços e direcionarão o tráfego e as reservas para si mesmos.

Ainda assim, os hotéis podem começar a preparar-se para quando for o momento certo. Um guia rápido seria:

  • Familiarize-se com os fundamentos da metapesquisa. Adquira um conhecimento aprofundado sobre as plataformas de metapesquisa, os seus principais fatores de influência (como a precisão e a competitividade dos preços) e os seus indicadores de desempenho (ou KPIs, como a quota de impressões e a taxa de participação). Isto permitirá tirar partido da metapesquisa para a preparação da IA, uma vez que muitas ferramentas de IA provavelmente dependerão destas plataformas para obter dados em tempo real sobre disponibilidade e preços.
  • Certifique-se de que as suas propriedades já estão listadas nas principais plataformas, como trivago, Tripadvisor e, especialmente, Google Hotels. É muito provável que as empresas de IA estabeleçam parcerias com os atuais players de metapesquisa para exibir os preços em tempo real dos hotéis. A Gemini da Google chegou a apresentar os preços em tempo real do Google Hotel Ads nos resultados de pesquisa, embora esse resultado já não possa ser reproduzido.

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  • Garanta que os sites das suas propriedades estão indexados pelos motores de busca baseados em IA. Entre em contacto proativamente com os fornecedores de IA e informe-se sobre os passos necessários para indexar o seu website e exibir os seus preços em tempo real. Atualmente, não existe um processo simples como “envie o seu URL ao Google”, tal como acontecia no início, quando o Google utilizava o diretório Dmoz para obter URLs para indexação. No entanto, esta realidade mudará em breve.
  • Certifique-se de que desenvolve o seu feed de preços em tempo real. Os maiores grupos hoteleiros devem considerar investir na sua própria API, preparada para responder a milhões de pedidos por dia. Já as cadeias menores e os hotéis independentes devem procurar empresas tecnológicas especializadas no setor hoteleiro que possam realizar essa integração diretamente com o PMS ou CRS. Quando chegar o momento, as plataformas de IA irão exigir informações de ARI (disponibilidade, tarifas e inventário) em tempo real.
  • Acompanhe de perto os desenvolvimentos para adaptar as suas estratégias em tempo real. Mantenha-se envolvido com as plataformas de IA e pergunte-lhes periodicamente sobre novidades nos seus produtos. Subscreva as notícias de sites especializados em tecnologia para o setor de viagens, como Phocuswire, Skift, Hospitalitynet ou o blog da Mirai, todas fontes valiosas de informação e aconselhamento. A mudança tornou-se a única constante na tecnologia hoteleira, e é essencial manter-se atualizado, pois o cenário está a evoluir rapidamente. 
  • Desenvolva processos e tecnologias robustas de monitorização e atribuição. Muitos hotéis ainda não estão familiarizados com a atribuição de reservas e têm apenas uma ideia vaga sobre a origem de todas as suas reservas. Alguns hoteleiros nem sequer têm acesso às suas contas do Google Analytics (ou de outros sistemas de monitorização), que são controladas por agências de marketing, deixando-os sem dados para tomar decisões acertadas. Esta situação já lhes está a causar sérios problemas, como gastos excessivos em marketing digital e a perda de oportunidades que apenas os dados podem ajudar a identificar. Os hotéis devem corrigir esta situação, implementar um modelo fiável de medição de desempenho e garantir que todo o tráfego é devidamente etiquetado para análise. Só assim poderão compreender que parte do tráfego e das reservas virá das plataformas de IA e dos motores de busca baseados em IA.

Sem dúvida, tudo isto pode parecer um grande esforço para algo que, neste momento, ainda não está disponível. Há sempre o argumento de esperar para ver o que os outros fazem primeiro. Afinal, Deus ajuda quem cedo madruga, mas não é por isso que o sol nasce mais cedo!

Mas a dura realidade é que esta mudança radical acontecerá mais rápido do que se possa imaginar. As APIs de preços em tempo real já estão disponíveis, especialmente através das grandes OTAs, que possuem praticamente todas as propriedades do mundo. Além disso, as plataformas de pesquisa baseadas em IA estão a expandir rapidamente a sua base de utilizadores. A Inteligência Artificia lestá a reformular a indústria do marketing digital, pelo que é de esperar uma transformação profunda na distribuição hoteleira num futuro muito próximo. Como tão poucos estão preparados, é provável que alguns players adquiram rapidamente vantagens massivas à custa dos outros (afinal, trata-se de um jogo de soma zero). Porque não querer fazer parte dos vencedores?